Brasil: Dia Da Memória Camponesa: Movimento Recupera O Legado De Seus Lutadores E Lutadoras

No dia 30 de abril de 2011, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) acordava com a triste notícia da partida física de dois grandes militantes da luta camponesa, Derli Casali e Maria Izabel, vítimas de um trágico acidente automotivo na cidade de Seabra (BA). A partida tão inesperada fez com que o Movimento reafirmasse a necessidade de manter a memória dos lutadores e lutadoras que dedicaram não só o tempo, mas a vida pela organização e luta camponesa. O dia da Memória Camponesa, 30 de abril, é marcado pela mística e pela necessidade de manter acesso o legado daqueles e daquelas que marcaram com suas vidas e de suas formas construíram nova sociedade.

“A partida física é algo inevitável, mas a dor de quando ela vem de forma repentina ou de um jeito covarde é incalculável, mas cabe a nós transformar toda nossa dor em memória ativa, em luta, afirma Bruno Pilon, do MPA.

José Raimundo Mota de Souza Júnior em sua plantação agroecológica. Foto: Arquivos do MPA

José Raimundo Mota de Souza Júnior em sua plantação agroecológica. Foto: Arquivos do MPA

Nesta data também trazemos a memória os lutadores e lutadoras que partiram nos últimos 7 anos, Gilberto Tuhtenhagen, Ivanor Johann, lideranças que marcaram a luta camponesa e a defesa da agroecologia que partiram fisicamente neste último ano. Recordamos com imensa tristeza e indignação do assassinato dos companheiros José Raimundo Mota de Souza Júnior e João Pereira de Oliveira por defenderem os territórios quilombolas e camponês na Bahia. Também recordamos e denunciamos o assassinato das Roseane Silva e Iones ambas vítimas do feminicídio que no Brasil, registram a cada 2 minutos, 5 mulheres são espancadas, a cada 11 minutos, 1 mulher é estuprada, a cada 90 minutos, 1 mulher é vítima de feminicídio, a cada 24 horas são registrados 179 relatos de agressão e 13 homicídios femininos, conforme dados do Dossiê Violência contra as Mulheres.

É muito duro saber que a luta pela terra e pelos direitos do campo ainda é marcada com sangue, e infelizmente a derrocada que sofremos de nossos direitos democráticos fez esse cenário aumentar, aponta Josineide Costa, do MPA. “Os assassinatos no campo em 2017 bateram novos recordes segundo a CPT [Comissão Pastoral da Terra], atingiu o maior número desde 2003, com 70 assassinatos, o que equivale a um aumento de 15% em relação ao número de 2016. Dentre essas mortes, destaco 4 massacres ocorridos nos Estados da Bahia, Mato Grosso, Pará e Rondônia” denuncia a jovem camponesa. Os dados completos ponde ser acessados no site Massacre no Campo organizado pela CPT.

Roseane Silva foi vítima de feminicídio em março deste ano. Foto: Arquivos do MPA

Roseane Silva foi vítima de feminicídio em março deste ano. Foto: Arquivos do MPA

Por sua vez, Leomárcio Silva, do MPA, aponta as vertentes dessa crescente violência:

– “O golpe, enquanto parte do “projeto” do Capital no Brasil, tem acirrado a criminalização e perseguição à classe trabalhadora, especialmente os/as trabalhadores/as que radicalizaram na luta por democracia e soberania nacional. E por isto, iniciamos o ano com assassinatos de camponeses negros, a exemplo do companheiro Junior Motta do MPA e tantos, tantas outros, outras que tombaram em luta. O capital, neste contexto, vem sem medo pelas mãos da elite nacional acabar com tudo que durante tanto tempo foi um freio ao modelo de desenvolvimento hegemônico: com a vida dos e das que lutam contra a apropriação das riquezas. Há uma decisão pairando: fazer tombar os e as que lutam pela vida, pela terra e pela natureza.”

Para o MPA o dia 30 de abril passou a representar um marco histórico das lutas camponesas do movimento. “É tarefa da organização recuperar em cada canto a memória dos camponeses e camponesas que contribuíram de alguma forma com a luta popular, dedicar um dia para essas pessoas é tarefa de cada militante”, explica Pilon.

Missa realizada nesta segunda-feira, 30 de abril, na casa de Izabel. Foto: MPA

Missa realizada nesta segunda-feira, 30 de abril, na casa de Izabel. Foto: MPA

– “Temos que viver com memória histórica ativa, lembrar das pessoas que contribuíram com nossa luta não com um saudosismo, mas de forma combativa. A memória se faz no dia a dia, na luta pelo Campesinato, pela Agroecologia, pelos direitos é fazendo essas lutas que Derli, e Izabel se mantém vivos em nossa organização”, afirma Charles Reginatto, do MPA.

Durante todo o dia camponeses e camponesas de todo o Brasil, realizaram ações de solidariedade e rendem homenagem, aos companheiros e companheiras de luta. Relembram a importância da luta de Derli, Izabel, Gilberto, Ivanor, Júnior, João Pereira, Roseane e Ione em nossos espaços de secretaria, reuniões e seminários, palavras de ordem, fotos e poemas reafirmavam o compromisso com a luta que esses grandes companheiros defenderam com convicção, garra, e muito amor.

Por Comunicação do MPA

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